"Guarde o que foi bom, jogue fora o que restou"

Certa vez eu briguei com uma de minhas melhores amigas na época - o que não era exatamente algo incomum, mas foi uma de nossas piores brigas - e ficamos sem nos falar, mesmo que nos víssemos todos os dias. Passávamos uma pela outra como se nada tivesse ao nosso lado, fazíamos nossas tarefas sem nos falar. Você, pode pensar que foi um modo infantil de lidar com a situação (ou talvez até se identifique), mas achávamos que assim evitaríamos problemas e, realmente, tirando o problema de não nos falarmos, não havia mais problema nenhum. Naquela época, lembro-me bem, eu estava aguardando o início de um curso, e tinha decidido ir até lá para assistir uma palestra. Quando tomei a decisão, eu não tinha em mãos o informativo do curso, então simplesmente não sabia o tema da palestra em questão, mas fui mesmo assim, porque precisava ficar algum tempo fora de casa.
Lembro como se fosse ontem que o tema da palestra era "Humildade e Amor" - o tipo de título que me faria bocejar, principalmente naquele momento um tanto cético da minha vida, mas sentei e esperei que a mulher começasse a palestrar. Num tema tão vasto, ela deu foco às relações familiares, e ficou gravado em minha mente que ela citou o próprio casamento e disse que certa vez ela e o marido brigaram muito seriamente, mas, próximo da hora de irem dormir, sentaram e conversaram, se acertaram e, mesmo que ainda estivessem abalados pela briga, foram dormir tranqüilos. A palestrante então comentou: "o que seria de nós, se tivéssemos dormido brigados e durante o sono algo acontecesse e um de nós partisse? Imaginem como se sentiria culpado quem permaneceu vivo, e como se sentiria culpado aquele que partiu? Jamais brigue com alguém e deixe de lado uma reconciliação, pois nunca sabemos o que pode acontecer".
Quando a palestra acabou, eu enxuguei minhas lágrimas e reparei que no auditório muitos também choravam. Voltei para casa de ônibus, com os olhos inchados, mas lembro que assim que desci no ponto avistei a minha amiga e, sem palavras, com os olhos marejados, eu a abracei e lhe pedi desculpas, mesmo que eu não me achasse completamente errada - alguém precisava ceder em prol da harmonia - eu disse a ela "preciso de você" e na hora ela não me desculpou, nem mesmo depois. Mas eu fiquei bem porque fiz a minha parte.
Às vezes tenho que lembrar a mim mesma dessa palestra. Ainda mais agora, com o fim do semestre chegando, numa época em que a ansiedade pelas férias se mistura com o nervosismo das provas e entrega de trabalhos, e eu vejo tantas pessoas discutindo e se desentendendo. Não podemos deixar que desentendimentos se prolonguem, pois acabamos esquecendo até o motivo de nossa chateação e continuamos chateados sem saber o porquê. Peça desculpas, mesmo que esteja certo - já existe erro em deixar as coisas irem longe demais, pois quanto mais esclarecidos nos tornamos, mais responsabilidades recaem em nós. O orgulho e o egoísmo são os maiores obstáculos para o progresso.

"Que bom te encontrar nessa cidade .. o brilho intenso me lembra vc!!!"